Na neblina dos Montes, Eles buscam a Filosofia da manhã! |
Em 2004, Rolândia viveu uma situação
política semelhante. Naquela ocasião, um pouco mais Jovem, escrevi esta Carta.
Alerto, antes que me dirijam ataques insanos, que a leitura destas palavras não
é indicada aos espíritos cativos e incultos de nossa cidade. Mesmo que tais almas consigam – o que seria um milagre –
se libertar de seu famigerado dogmatismo antes da leitura do texto, nossas palavras ainda serão, para estas almas superficiais, totalmente
incompreensíveis. A presente Carta é dirigida àqueles raros
Espíritos Livres que possuem uma visão ampla e clara do que é Humano, demasiado
Humano, como diria um dos nossos Grandes Mestres. O idealismo político e ideológico é próprio das Almas Jovens e, diante desta verdade, escrevi: Nós Espíritos Livres, nós Visionários, nós Poetas,
nós “loucos”, que sonhamos com o futuro, somos aqueles que plantam árvores para
mais tarde. Muitas destas árvores não crescerão, muita semente não germinará,
muitos de nossos sonhos se revelarão erros, enganos e tentativas falhas. Mas o que importa isso? Não devemos querer transformar poetas
em gente prática, crentes em calculistas, sonhadores em organizadores. Os
politiqueiros não fundamentam seu efêmero poder no coração ou na mente, mas na
massa dos que julgam estar “representando”. Operam com aquilo que nós,
Espíritos Livres, não podemos e nem devemos manejar, isto é o número e a
quantidade de eleitores – que para nós não possui muito valor. Yang Tschou, um sábio chinês, afirmou o seguinte: Há quatro
coisas das quais a maioria dos homens depende, que cobiça excessivamente: vida
longa, glória, cargos e títulos, dinheiro e bens. O constante desejo dessas
quatro coisas faz com que os homens tenham medo dos demônios, tenham medo uns
dos outros e que tenham medo do castigo dos poderosos. Todo Estado Político se fundamenta nesse medo e nessa
quádrupla dependência. As pessoas que sucumbem a essas dependências vivem como
insanas. Não importa se os matamos a pancadas, ou os deixamos viver: o destino
sempre lhes será algo imposto de fora. Mas aquele que ama seu Destino, e sabe
que é uma coisa só com ele, que lhe interessam vida longa, glória, cargos ou
riquezas? As pessoas deste tipo trazem a Paz em seu interior. Nada no mundo
pode ameaçá-las, nada lhes pode ser hostil, pois carregam seu Destino dentro de
si. Infelizmente, nosso povo optou
pelo continuísmo, pelo autoritarismo e pelo conservadorismo. Desta forma é
importante que nós, como integrantes da sociedade rolandense, façamos as
seguintes perguntas: E eu? Até que ponto sou cúmplice? Onde, em mim, está o
ponto em que se apóia a má imprensa? O autoritarismo? A fé nos velhos e
ultrapassados “grandes” líderes políticos e espirituais de Rolândia? Meus Amigos, o maior dos Espíritos Livres, Nietzsche, assim
se referiu ao fenômeno da ressurreição do Espírito: No leito de enfermo da Política, geralmente um povo
rejuvenesce e redescobre seu espírito, que ele havia perdido ao buscar o Poder.
A cultura deve suas mais altas conquistas aos tempos politicamente debilitados.
Em todas as instituições em que não sopra o ar cortante da crítica pública, uma
inocente corrupção brota como um fungo. Reflitam, pois: Não seria o caso de Rolândia? Por isso é que
lançamos a sentença: Oh, farsantes e realejos calai-vos de uma vez! Nada tememos, pois nossa alma é livre e feliz! Reafirmamos, com toda ênfase, que continuaremos cantando e
caminhando, pois quem alcançou em alguma medida
a liberdade da razão, não pode se sentir mais que um andarilho sobre a Terra –
e não um viajante que se dirige a uma meta final: pois esta não existe. Mas ele
observará e terá olhos abertos para tudo quanto realmente sucede no mundo;
(...) Nele deve existir algo de errante, que tenha alegria na mudança e na
passagem. Sem dúvida esse homem conhecerá noites ruins, em que estará cansado e
encontrará fechado o portão da cidade que lhe deveria oferecer repouso. Além
disso, talvez o deserto, como no Oriente, chegue até o portão, animais de
rapina uivem ao longe, um vento forte se levante, bandidos lhe roubem os
animais de carga. Sentirá então cair a noite terrível como um segundo deserto
sobre o deserto, e o seu coração se cansará de andar. Quando surgir então para
ele o sol matinal, ardente como uma divindade da ira, quando para ele se abrir
a cidade, verá talvez, nos rostos dos que nela vivem, ainda mais deserto,
sujeira, ilusão, insegurança do que no outro lado do portão – e o dia será
quase pior do que a noite. Isso bem pode acontecer ao andarilho; mas depois
virão, como recompensa, as venturosas manhãs de outras paragens e outros dias,
quando já no alvorecer verá, na neblina dos montes, os bandos de musas passarem
dançando ao seu lado, quando mais tarde, no equilíbrio de sua alma matutina, em
quieto passeio entre as árvores, das copas e das folhagens lhe cairão somente
coisas boas e claras, presentes daqueles espíritos livres que estão em casa na
montanha, na floresta, na solidão, e que, como ele, em sua maneira ora feliz
ora meditativa, são andarilhos e filósofos... Nascidos dos mistérios da
alvorada: Eles buscam a filosofia da manhã!
Nenhum comentário:
Postar um comentário