quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Serra dos Agudos: O sonho não acabou!


O Montanhismo é uma vertente do Ambientalismo. Desde tempos imemoriais as grandes altitudes são sinônimas de uma ligação íntima com a Natureza. Várias tradições religiosas referem-se às Montanhas como templos da espiritualidade, “morada dos deuses” ou até mesmo “divindades em si.” 

A pedra fundamental do Judaísmo foi outorgada a Moisés no Monte Sinai. O Templo de Salomão (Beit HaMikdash) localizava-se no Monte Moriah segundo as Escrituras Sagradas. O Monte Olimpo é a morada dos principais deuses do panteão grego. No Nepal, a maior Montanha do mundo (Everest) é chamada de Sagarmatha (rosto do céu) e no Tibet Chomolangma (mãe do universo). No Japão, o Monte Fugi ou Fuyo-ho (o Pico de Lótus), têm seu nome derivado da palavra imortal (fushi). 

Lamentavelmente, nossa civilização deixou de santificar a Natureza. Para grande parcela da coletividade, árvore é objeto, animal é coisa e montanhas são, simplesmente, locais inacessíveis. O meio geofísico em que vivemos deveria ter um papel mais importante na formação de nossa identidade. 

Com efeito, o Norte do Paraná precisa conhecer e valorizar seu maior Patrimônio Natural: a Serra dos Agudos! Trata-se de uma região geológica peculiar, na transição entre o segundo e o terceiro planalto. A carência de estudos, divulgação e investimentos fazem com que este santuário seja um privilégio vivenciado por poucos. 

Uma simples caminhada desperta nossa curiosidade geológica. O solo muda de cor repetidas vezes: branco, amarelo, roxo, vermelho, cinza. Ora argiloso, ora arenoso. No vale do Rio Esperança, as linhas e fendas dos paredões de rocha sedimentar nos remetem às eras geológicas pretéritas. Nos remansos, a água cristalina reflete o branco das paredes e o verde das florestas em colorações que variam do azul ao esmeralda... 

A vegetação é um espetáculo à parte: Fragmentos de Mata de Araucárias intercalam-se aos remanescentes de Floresta Estacional Semidecidual e Campos Cerrados. O Pico Agudo, localizado no Município de Sapopema, é o ponto culminante da Serra dos Agudos com consideráveis 1.224 metros s.n.m segundo Reinhard MAACK. 

Do cume do P.A. (como é carinhosamente denominado o maior Templo do Montanhismo Norte Paranaense) têm-se uma visão privilegiada do Rio Tibagi percorrendo Cânion mais profundo do Estado do Paraná, com incríveis 650 metros de profundidade média, segundo estudos da UFPR. 

Impressiona o gigantesco desfiladeiro de arenito, coberto por bromélias endêmicas (sobretudo do gênero Dyckia), orquídeas e rainhas do abismo. Outro espetáculo é a visão e o canto da Corredeira do Inferno, temido obstáculo enfrentado por Jesuítas e Bandeirantes no século dezoito e por estudiosos no século dezenove, conforme narrou Thomas BIGG-WHITTER. 

Na margem oposta do Rio Tibagi, no Município de Ortigueira, há uma chapada de aproximadamente seis quilômetros de extensão, a Serra Grande. No alto de seus consideráveis 1.170 metros s.n.m, [IBGE] o Segundo Planalto descortina-se em sua imensidão; as silhuetas do Pico Agudo recordam uma face humana e a visão privilegiada do Morro do Taff e Serra do Cadeado são convites ao êxtase contemplativo. 

No Município de São Jerônimo da Serra, o Morro do Taff, nos brinda com uma visão mais angulada (skyline) da Serra dos Agudos, penhascos impressionantes e uma visão privilegiada da Terra Indígena do Apucaraninha, já no Município de Tamarana. Referências aos majestosos saltos, grutas e cavernas do entorno. 

Beira o impossível descrever a imponência da Serra dos Agudos, mas nos consola o fato de a mesma poder ser avistada (por observadores atenciosos) de vários pontos da região sul de Rolândia. 

Beleza cênica de difícil comparação, mas certamente do mesmo nível de Santuários consagrados como o Parque Estadual Pico Paraná; Parque Estadual Cânion Guartelá; Parque Estadual do Marumbi; Parque Nacional Chapada dos Guimarães, etc... 

Folheando o primeiro Livro de Cume do Pico Agudo (cujo original encontra-se arquivado no CMNP – Clube de Montanha Norte Paranaense) encontramos várias declarações de devotamento à Serra, dignas de transcrição: 

“Sempre é gratificante voltar a este lugar. Visual incrível e astral mais ainda; Agradeço aos meus amigos por terem levado esta idéia adiante, mas principalmente a Deus por ter permitido a nós contemplar mais uma de suas Belas Obras; Pico Agudo, maravilhoso, muito perto de Deus; Só vindo para saber o que é... maravilhoso... Estava deitado contemplando os sons dos rios e pássaros, tudo é muito maravilhoso... Pico Agudo, lugar de imensa harmonia, entre o Céu e a Terra; Esta Montanha me surpreendeu pela sua beleza, não esperava algo assim em nossa região; Cada Montanha tem sua particularidade, mas o Pico Agudo é realmente lindo! O Pico Agudo é muito importante para os moradores da região, os quais reportam fantásticas histórias sobre esta Montanha... Fica aqui o registro de um cidadão sapopemense aos amigos de outras cidades que zelam e adoram este lugar!” 

Aqui cabe um parêntesis: A população tradicional da Serra dos Agudos, gente humilde e acolhedora faz parte da mística toda especial da região! 

Montanhistas de várias localidades do Estado estão empenhados em divulgar as imensas possibilidades eco-turísticas da Serra dos Agudos. Ofícios já foram encaminhados à Assembléia Legislativa, solicitando ações efetivas visando à preservação deste autêntico Patrimônio do Povo do Paraná. 

A cada dia, a luta das populações indígenas e tradicionais, Ministério Público Federal, ONGs Ambientais e Montanhistas de todo Estado angaria novas adesões contra as sete usinas hidrelétricas projetadas pelo PAC no Rio Tibagi. 

A justificativa dos desenvolvimentistas arcaicos “é suprir a carência energética do parque industrial paulista.”  Saibam todos que o excessivo barrageamento proposto no Rio Tibagi irá alterar de maneira irreversível os aspectos cênicos, a vida social e ambiental da Região, compreendendo ainda a extinção de várias espécies endêmicas vegetais e animais (sobretudo, os peixes). 

Montanhistas e Ambientalistas do Paraná: Digam NÃO às Usinas Hidrelétricas no Rio Tibagi, pois o sonho NÃO acabou!  Paulo Augusto Farina em abril de 2010.

9 comentários:

  1. PARABENS PELO BLOG. ELE COMEÇOU BEM. CONTINUE ASSIM. O MUNDO TE AGUARDA. TIO CÁ

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  2. Também deixo aqui registrado as minhas congratulações!

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  3. José Carlos Farina e Homero Filho, vossas palavras são um grande incentivo! Fico extremamente honrado com vossas visitas! Fiquem à vontade para postarem sempre!

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  4. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  5. Entre em contacto comigo. No Blog Dyckia Brazil tens meu endereço no cabeçário.Sou um Dyckia aficionado e temos o que falar no assunto. Abraço
    Constantino

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  6. Olá Paulo! Há tempos acompanho suas imagens e sua militância ambiental. Hoje passo por aqui para lhe cumprimentar pelos textos aqui em seu blog e registrar minhas saudações.
    Abraço!

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  7. Muito obrigado Getúlio pelo comentário e incentivo!!!

    Fraterno Abraço de Rolândia!!!

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  8. Por curiosidade, essa bromélia amarela é um Dyckia, mas qual é a espécie? :)

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