sábado, 1 de fevereiro de 2020

A questão da equivalência entre as Ordens do Rito Francês e os Altos Graus do Rito Escocês


Primeira Ordem: Eleito Secreto
       
         Com o Mestrado, vários caminhos se abrem diante do Maçom. Fato pacífico, cada Rito possui seu próprio sistema de aperfeiçoamento e, tal como ocorre no Simbolismo, os Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito são os mais praticados no Brasil. Por esta razão, a questão da correspondência ou equivalência entre os sistemas, cedo ou tarde, interessará ao iniciado nas Ordens do Rito Moderno e Francês. 

    Historicamente, visando coibir à proliferação indiscriminada de Graus e estabelecer uma doutrina própria para o Rito Moderno, o Grande Oriente da França instituiu, em 1782, uma Câmara de Altos Graus. Foi este órgão que, em 1784, promoveu a unificação de sete Soberanos Capítulos Rosa-Cruz, criando uma nova instituição denominada Grande Capítulo Geral de França.

         Este Grande Capítulo, sob a orientação de Roettiers de Montaleau, efetuou a análise e o estudo de uma centena de graus e redigiu Rituais próprios, dividindo-os em Ordens, a saber: 1ª Ordem: Eleito Secreto; 2ª Ordem: Eleito Escocês; 3ª Ordem: Cavaleiro da Espada ou Cavaleiro do Oriente; 4ª Ordem: Cavaleiro Rosa-Cruz e a 5ª Ordem: Ilustríssimo e Perfeito Mestre. Segundo o Ir∴ Antônio Onías Neto houve um período, em Portugal, no qual a Quinta Ordem chegou a funcionar com um Grau 8 (Kadosh Perfeito) e um Grau 9 (Grande Inspetor).

        Os chamados Altos Graus Escoceses, tinham como especificidade vincular-se às origens cavalheirescas da Maçonaria. Este fenômeno franco-alemão, surge depois da tese apresentada pelo Cavaleiro Ramsay, em 1736,  na Loja Le Louis d´Argent: após a dissolução da Ordem do Templo pelo Papa Clemente V e o Rei Felipe, o Belo, em 1312, alguns Templários  teriam encontrado refúgio em Heredom, daí a origem do termo Escocês nos Ritos Maçônicos e de escocismo nos Altos Graus.

       É certo, portanto, que a codificação de 1784, já incluía uma quinta Ordem que atuaria como “Academia detentora de conhecimentos provenientes de outros sistemas e grupo de coordenação administrativa”. Com o Regulateur de 1801, todos os graus do Rito Moderno passaram a ter o seu ritual.

         Como explica o Ir Villalta a carreira iniciática de um Maçom do Rito Moderno, nos Altos Graus, passava pelas quatro Ordens. A quinta não continha nenhum ensinamento iniciático particular e novo, visto que o grau de Rosacruz guardara durante o período de 1784 a 1786 o status de nec plus ultra do Regime Moderno e Francês. O regulamento, fixado em 1784, afirma:

Artigo 29: A 5ª Ordem compreenderá todos os graus físicos e metafísicos e todos os sistemas adotados pelas associações maçônicas em vigor.

      Atualmente, no Brasil, se reorganizou o Rito, mantendo-se a quinta ordem e subdividindo-a em dois Graus: 8º Grau - Cavaleiro da Águia Branca e Preta, Kadosh Filosófico e o 9º Grau - Cavaleiro da Sapiência.   
          
       As semelhanças entre as Ordens do Rito Francês e os Altos Graus do Rito Escocês não é mera coincidência, vez que a Maçonaria continental do século XVIII foi Moderna, inclusive para os Graus escoceses. O que o Grande Capítulo Geral fez, em 1784, foi redigir para cada uma das quatro Ordens, um único grau, destinado a refletir sua essência fundamental.  

       A tragédia dos três companheiros assassinos do Mestre Hiran Abiff, julgados e condenados pelas próprias consciências, guarda um paralelo incrível com a obra Crime e Castigo de Dostoiévski. Neste clássico, o personagem principal Rodion Raskólnikov, após cometer o assassinato de uma velha agiota, movido por intenções altruístas, não chega a usufruir do ganho delituoso devido ao arrependimento. Acometido por dramas psicológicos terríveis acaba por confessar o delito e entregar-se a Justiça para cumprir a pena que lhe fosse imposta. 

REFERÊNCIAS:

CAMINO, Rizzardo. Os Graus Inefáveis (4º ao 14º do Rito Escocês Antigo e Aceito): Loja de Perfeição. Quarta Edição. Rio de Janeiro: Editora Aurora.
GRANDE ORIENTE DE SÃO PAULO: Comunicado Oficial do GOSP sobre os Altos Corpos Filosóficos: http://gosp.org.br/comunicado-oficial-do-gosp-sobre-os-altos-corpos-filosoficos-2
MATA, Joaquim Villalta. Em Ouro & Azul: Reflexões, estudos e ensaios sobre o Rito Moderno e Francês. Tradução: José Filardo. 2ª edição, Londrina: Editora A Trolha, 2018.
NETO, Antônio Onías. O Rito Moderno: https://arquitetosdoprogresso.mvu.com.br/site/o-rito-moderno/MoacLmmaLZk-3/atr.aspx
SUPREMO CONSELHO DO RITO MODERNO: http://www.scrm.org.br
VIANA, Cléber Tomás. Ritos Franceses Tradicionais. Novos Ritos ou ramos diferentesa da mesma árvore? http://ritomodernobrasil.org/rito-franceses-tradicionais-novos-ritos/
DOSTOIÉVSKI, F.M. Crime e Castigo. São Paulo: 34, 2001. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário