“As alturas dos Montes pertencem a D-us” (Salmos, 95:4). Melhor síntese do Montanhismo, não conheço. Felizmente, minha esposa compreende este espírito e, anualmente, cede um dia de nossa estada no litoral para que eu possa peregrinar pelos magníficos Santuários da Serra do Mar.
Após
duas ascensões solo ao Monte Crista (pela proximidade de Guaratuba), enfim chegou
o momento de ascender ao cume do Araçatuba, em Tijucas do Sul. Com seus 1.680
metros s.n.m. é a Montanha mais alta da região sudeste do Paraná e situa-se
próxima a divida com Santa Catarina.
Apesar
de ser considerada a Montanha mais fria de nosso Estado, por receber
diretamente ventos marítimos e massas de ar frio do Sul, no verão o calor é
implacável devido ao fato da trilha ser exposta ao Sol: Dos 5 km de extensão,
90% são percorridos em belíssimos campos e lages de granito…
Munido
destas informações preliminares, parti de Guaratuba às 9:00 da manhã, rumo ao
distrito de Matulão, acesso a Montanha. Após me informar com moradores cheguei
ao Sítio que dá acesso a trilha às 10:20 e pé na trilha!
Há
algum tempo ansiava por ouvir o canto metálico das Arapongas da Serra do Mar. Animado
e sozinho, rapidamente ganhava altitude. Cruzei o primeiro riacho, abastecei o
cantil e toquei em frente, atento para não pegar as “trilhas” dos bovinos. Eis
que identifiquei uma flecha na rocha e acelerei mais!
Alguns minutos e cruzei novamente o riacho para entrar, definitivamente, no universo dos campos de altitude.
A parte superior da Montanha é muito vasta, a paisagem confunde e os inúmeros
relatos de perdidos na região (meu pai foi um deles) tem lastro.
Felizmente vez e outra identificava um sinal de trilha…
Mais
acima a trilha desembocou em um grande lageado. Caminhava com dúvidas, quando
identifiquei um pato na paisagem. Lancei o olhar mais acima e bingo: Outro pato!
Foi assim até o final do lageado. Mas eis que entrei no campo novamente e não vi mais sinais por uns 10
minutos…
Subi
em uma rocha alta e identifiquei novamente a trilha, logo a direita. Dali a ascensão transcorreu tranquilamente até o falso cume. Eram 12:o0 e o cenário era
belíssimo. O preço do céu azul e o visual fantástico era um sol de rachar
mamonas! Tranquilo fiz uma pausa e algumas imagens…
Como
havia sinal de celular, decidi ligar para alguns Irmãos de Montanha em Rolândia
para compartilhar com eles o sentimento inebriante que só os integrantes da
Confraria conhecem. Também liguei para o meu Pai mas deu caixa. Tentaria mais tarde...
Do
falso cume avistei três elevações e na mais alta destas avistei uma pequenina caixa que
julguei ser o Livro de Cume. Liguei para o Marcão Huss (temporariamente afastado
das Montanhas por um problema no tornozelo) e descrevi o visual alucinante que
descortinava-se ante aos meus olhos…
Dali
era possível ver a região metropolitana de Curitiba e vastas áreas do primeiro planalto. Toquei para o Cume de onde se têm uma visão fantástica da Serra do Quiriri e de partes do Litoral paranaense e norte-catarinense. Liguei para
minha esposa e para os Irmãos Lucas Zerbinati, Celsinho de Silvio, André Farina e
recebi uma ligação do Irmão Rafael Cabrini…
Descalcei
as botas, lanchei, relaxei, fiz minhas orações e meditações. Como ninguém é de
ferro preparei meu cigarro de palha, calmo e maravilhado com a indescritível paisagem.
Mais uma vez sozinho nas Montanhas: O eu profundo
e meus outros eus, recordando um dos nossos estimados Mestres!
Às
13:00 hrs decidi percorrer as outras elevações do cume e após alguns registros da flora e paisagem decidi retornar. Eis que deixei o
cume fora da trilha e assim prossegui, perdendo altitude e tendo como rumo um
riacho que desce a Montanha… Ri sozinho, afinal não seria eu, em minha
primeira ascensão solo, que quebraria a Tradição do Araçatuba!
Decidi
atravessar o riacho em busca de um terreno mais propício a minha caminhada
quando finalmente reencontrei a trilha, justamente no lageado dos “Patos”…
Liguei novamente para o meu pai e aproveitei para avisar minha esposa que logo
mais estaria na praia com a Família…
A
partir daí a descida foi rápida e tranqüila (exceção para o sol de rachar
mamonas). Como estava sozinho na Montanha, não tive receio algum em
permanecer por cerca de meia hora nu, refrescando-me, no pequenino poço que há
no riacho que desce o Araçatuba…
Refrescado
e recomposto, às 14:30 estava novamente no sítio, acertei o estacionamento com
a filha da proprietária e rumei novamente para Guaratuba ouvindo a eclética coletânea que montamos para a viagem que vai de Jethro Tull, Pink Floyd a Belle
& Sebastian, Velvet, Cazuza, etc e tal… Eis o epílogo de um dia memorável em uma belíssima Montanha!
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