segunda-feira, 29 de julho de 2024

A letra Guimel e o cenotáfio no Painel de Mestre do Rito Francês


No painel de Mestre do Rito Francês de Referência, como em todos os Ritos Maçônicos, constam diversas alegorias referentes à lenda do Mestre Hiram, célebre arquiteto do Primeiro Templo de Jerusalém. Entretanto, algo neste painel chama atenção por parecer fora de contexto: a letra presente no triângulo do cenotáfio. 


Em nosso alfabeto, tal letra lembra um L ou um J, a depender do ângulo de observação. Em nosso simbolismo, J é a inicial da Coluna onde os aprendizes recebem seu salário. Não é, portanto, uma relação plausível com o Terceiro Grau. Outras analogias possíveis seriam com a inicial do nome dos assassinos (pouco provável), com a cidade de Santa de Jerusalém ou com o nome Jahbulon. 


Historicamente, o nome inefável Jahbulon foi utilizado em alguns rituais do Arco Real e no Rito de York, mas não consta no Rito Francês. Vê-se, portanto, que são frágeis as ligações do J com o Grau. Em relação à letra L (observada na disposição correta do Painel) não encontramos nexo com qualquer elemento do Grau. Frise-se, por fim, que a palavra de passe não tem L ou J como inicial.


A partir destas constatações fomos buscar no alfabeto hebraico uma possível resposta para o enigma, vez que todas as palavras do simbolismo possuem origem neste idioma. Pois bem: A grafia do L no Painel lembra a letra Guimel invertida, cujo valor numérico é 3, justamente o número do Grau!


Guimel ou gimel é a terceira letra de muitos alfabetos semíticos, incluindo o fenício, aramaico, hebraico, siríaco e árabe. Corresponde à letra G. Do alfabeto fenício para o  grego é a raiz da letra Gamma. Também é a inicial da palavra de passe que, segundo a tradição francesa, significa “pedreiro e excelente maçom”


Segundo Theodor, os obreiros que trabalharam na construção do Templo de Salomão foram recrutados em Guebel, antigo porto fenício de Biblos, razão de serem chamados guiblitas, uma tradução do vocábulo hebraico guiblin: os homens de Biblos. Em consonância com o Ritual Francês, o nome de um Mestre Maçom era Gabaon ou Gibeão, ambos vocábulos hebraicos iniciados com a letra Guimel.


Mas as incríveis associações desta letra com os fatos e as lendas do Grau não param por aí: O Ritual afirma que a palavra de passe (identicamente, um vocábulo de origem hebraica) designa uma montanha nos arredores de Jerusalém de onde o Rei Salomão retirou as pedras para a construção do Primeiro Templo.


Na Cabalá (Torat ha´Sod) o conceito da letra Guimel envolve a busca de recompensa e punição no contexto do mundo físico; Significado: uma ponte; desmame; benevolência; Número: 3; Formato: um corpo (o vav) caminhando (o yud ligado, como um pé); No espaço: Marte; No tempo: Segunda-feira; Na Alma: ouvido direito; Dom: riqueza; Arquétipo: Yitschac; Canal: de Biná à Guevurá. 


Conclusão: É plausível que a grafia original da letra tenha sido corrompida por desconhecimento do alfabeto hebraico (como, aliás, verifica-se com a grafia das letras do tetragrama em diversos templos maçônicos), situação esta, agravada pelo decurso do tempo, sucessivas reformas e revisões pelas quais o Rito passou. Somente o Painel original (se é que ele ainda exista) poderia colocar um termo neste enigma, mas a lógica aponta que seja o Guimel, a letra presente no cenotáfio! 


REFERÊNCIAS:

PAULO AUGUSTO FARINA é Mestre Maçom da ARLS François Voltaire nº 173 do Grande Oriente do Paraná - COMAB. Grau 9 - Grande Inspetor do Rito Moderno - SCRM. Membro do Capítulo Cavaleiros da Paz nº 5 do Sagrado Arco Real de Jerusalém da Grande Loja do Paraná. Chevalier da Ordem DeMolay.

GRANDE ORIENTE DO PARANÁ, Ritual de Mestre Maçom - Rito Francês. Curitiba, 2016.

WIKIPEDIA. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jahbulon, acesso em 23/07/2024.

THEODOR, H. Novo Dicionário de Maçonaria, 321 verbetes, p. 45.

CHABAD. https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1745252/jewish/O-Que-Cabal.htm

CHABAD. https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1879507/jewish/Guimel.htm